Olá, o meu nome é Joana e tenho 21 anos.
Já há muito tempo que detenho em meu poder uma bola enorme, daquelas fofinhas que fazem cócegas, guardo-a na garganta uns milímetros antes da epiglote. Quando se move, fico tão aflita que começo, instantaneamente, a chorar. O problema é que quando tenho dessas crises, a bola impede-me de falar, então pedir ajuda torna-se demasiado complicado para uma rapariga como eu. De 21 anos, sem noção alguma de como se conserta essa coisa cá dentro. O mais difícil é mesmo respirar e conseguir tomar alguma decisão que não agrave mais a situação, normalmente não acontece.
Decidi há um par de dias atrás que não deixaria ninguém conhecer o meu eu vulnerável, percebi hoje que pelo menos eu vou ter de levar sempre com ele. Todos os dias.
Eu sempre acreditei na minha recuperação, que alguém iria eventualmente consertar os estragos feitos. Eventualmente, disse eu. Nunca consegui nada, nem vou conseguir, porque não sou nada de especial e sou só um bocadinho mais incapaz do que deveria. Daquele tipo de erro que sai mais caro do que o que posso pagar. Eu não tenho estofo para mim, se bem que por vezes fico entusiasmada quando convenço outros de que sim.
Vai ficar tudo bem. Eu só não sei o que fazer comigo. Há dias que não choro, que não procuro músicas novas para ouvir, que não dou uma caminhada até ao Porto, que não me belisco nem abro bocados de carne. Há dias que não sinto, ou não sei o que devo sentir. Nunca perdi a esperança de arranjar a cura ou um xarope que consiga dissolver a bola. Sou capaz de me ter apercebido que não vale a pena. É tudo cíclico e não vai melhorar, porque eu esforço-me todos os dias para ser qualquer coisa e nunca melhoro. Eu deixei de sentir. Se calhar deixei de ter aquela coisa que é a última a morrer. Agora só falto eu por fora, que por dentro já começa a crescer erva daninha.
Estou tão cansada...